quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Em prol do amor...

Estendido, cansado, nostálgico, olho a minha realidade, já certo do meu futuro, me removo ao passado e lembro-me das cenas daquelas pessoas, teria sido tudo uma mera hipocrisia?
De todo não.
Mas agora, todos me olhavam, com repúdio. Não se lembraram de mim em momento algum, mas eu lembrei-me de cada rosto. Lá vi aquele que acreditava nas minhas causas, que cria nas minhas convicções, que tinha a vitalidade da juventude, mas recusou usar sua força para lutar ao meu lado, na concorrência instituída, a ambição mais uma vez roeu os pilares do amor.
Em meio à multidão, flashes e imprensa vi também aquele que convidei para seguir adiante, junto a mim, lutando por um só propósito, mas como muitos ele olhou para trás e decidiu ficar em um passado onde a mediocridade tornou-se sinônimo.
A cidade parou para ver o “espetáculo”, em meio a uma selva de pedras, todos a mim apontavam. Lembrei que um dia fui aclamado. Parecia que não se lembravam mais de mim... As pessoas me empurravam e gritavam, os holofotes eram fortes em meu rosto, mas não tanto a ponto de não poder vê-lo. Foi difícil ver todos ali, mas o rosto dele inegavelmente me comoveu. Um filme reprisou na minha mente. Os melhores capítulos daquela história, da amizade consumada ainda na infância, dos segredos e conflitos compartilhados na adolescência, e da luta em comum, pelos objetivos futuros quando adultos... Pelo menos foi o que pensei, mas meu rosto empalideceu, meu semblante se desfigurou, a tristeza transpareceu meu olhar, pois tudo era uma farsa. Ele era um dos meus melhores amigos. Vi seu casamento se firmar, os filhos crescerem. Foi meu companheiro de trabalho, mas não levou nada disso em consideração.
Apunhalou-me pelas costas, me deixou só, não me ajudou, nem me visitou quando me encarceraram no seio da injustiça.
Sua face era semelhante à de todos os outros. Me ironizavam, as mãos faziam com que aquela ira se transformasse literalmente em dor.
Andando em meio aquele asfalto esburacado, as pedras à minha frente se multiplicavam. Muitos tentaram me fazer desistir, mas nem que lute só conseguirei meu objetivo, mesmo que toda a cooperativa me abandone e reivindique sozinho, meus olhos estão fixos no alvo. Solitariamente fui pleitear por uma importante causa.
Enchi-me de coragem e na frente de todos lutei,gritei,chorei,sorri,falei. Não me preocupei se os mais importantes chefes me ameaçariam, mas cheguei à conclusão que a única forma de ser vitorioso era perdendo a batalha, pois só assim teria êxito na guerra.
Calado, quieto, por entre corredores de um silêncio ensurdecedor, me pegaram. Deixei-me levar, como uma criança indefesa, me rendi. O tumulto e a correria passaram a ser os protagonistas daquele episódio, os policiais levaram-me,começou um verdadeiro martírio,foi um longo e difícil caminho.
Por entre altas torres de concreto vi minúsculas pessoas, que saiam afoitamente de seus prédios como que querendo executar uma sentença que por eles já tinha sido julgada. Almejando humilhação pública me levaram para porta do presídio, me olharam com desprezo,gritavam que eu era um hipócrita, ouvia risos de deboche . Então, caminharam comigo, segurando meu rosto, para que todos pudessem ver-me,parecia que eu era o troféu que todos almejavam.
As pessoas saiam das suas casas para não perder a oportunidade de apontar o dedo em minha face. A cidade parou junto com os carros, que fizeram um corredor para presenciar aquele momento deplorável. As luzes da cidade estavam focadas em mim, armaram à cena, que para eles e muitos que ainda iriam vir foi uma comédia, mas para os poucos que me reconhecem ,esse foi meu drama.
Ao fim, levaram-me ao prédio mais alto, que muito me lembrou o monte, o céu da cidade estava cinzento, para ele olhei e perguntei : Aonde estás?
O cenário pode ser diferente, mas os personagens são os mesmos.
Lá no alto do prédio, olhei para baixo e os vi, todos estavam lá, inclusive você, me insultando e desprezando. Estenderam-me sobre o “presente” que você construiu para mim, e me obrigou a carregar por toda essa jornada.
O suor em tom carmesim acompanhou o brado de dor,quando ouvi o barulho dos pregos,nas mãos, nos pés, uma,duas,três vezes, pregaram-me, pregaram-me.
Pela ultima vez olhei para o rosto de vocês e por amor, inclinei a fronte, fechei os olhos e morri!

Um comentário:

  1. Nossa, Juh, ainda não tinha tido a oportunidade de ler esse texto, é realmente impressionante a tua criatividade e teu bom senso na hora de escrever e descrever. Amei o texto e desejo que assim como esse e os outros, você continue escrevendo textos maravilhosos.
    Paola.

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